Morre o radialista Luiz Mendes, o 'comentarista da palavra fácil'
Luiz Mendes participava da mesa redonda aos
domingos (Foto: Divulgação Site PUC-RS)
Por
mais de 60 anos, Luiz Mendes iniciava suas transmissões, seja como
locutor ou comentarista esportivo, com o conhecido bordão "Minha
gente..." Era a forma que encontrava para invadir com simplicidade e
gentileza a intimidade dos ouvintes e também telespectadores. Não à
toa, ganhou logo o título de "comentarista da palavra fácil". A fala
mansa, direta, simples e segura caiu no gosto popular. E nesta
quinta-feira, esse público que tanto aguardava suas opiniões perdeu uma
das mais admiradas e poderosas vozes do rádio brasileiro. O gaúcho de
Palmeiras das Missões morreu no Rio de Janeiro aos 87 anos, deixando
viúva a atriz e radialista Daisy Lucidi, com quem viveu por mais de 50
anos e teve um filho, que lhe deu netos e uma bisneta.
Luiz Mendes sofria há
muitos anos com o diabetes. Ele estava internado no CTI do Hospital São
Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, desde o dia 17 de outubro. A
assessoria do hospital ainda não informou a causa da morte. Antes de o
estado se agravar, Mendes já não saía mais de casa. Mas participava do
"Enquanto a bola não rola", mesa-redonda da Rádio Globo aos domingos, e
tinha um quadro chamado "Da pelada ao Pelé" no "Globo Esportivo",
programa apresentado por José Carlos Araújo no fim de tarde, de segunda
a sexta. Em "Da pelada ao Pelé", Mendes contava suas principais
lembranças do mundo do futebol.
Torcedor
do Grêmio e do Botafogo - o clube alvinegro já decretou luto oficial
de três dias -, Luiz Mendes teve uma trajetória intimamente ligada à
história do rádio e da TV. Afinal, das 19 Copas do Mundo, participou
simplesmente de 16. Ficou fora apenas das de 1930, 1934 e 1938 por
ainda ser garoto. Mas em 1950 já era o locutor que narrou com a voz
embargada o gol de Gigghia no Maracanazo da Copa de 1950, quando o
Uruguai bateu o Brasil por 2 a 1 na final e deixou o país em profunda
tristeza.
Se no rádio Luiz Mendes teve sua
marca registrada, na TV sua passagem também foi marcante. Ele
participou da primeira transmissão de TV colorida no Brasil, em 1972.
Ainda na telinha, pela TV Rio, apresentou programas como TV-Rinque e a
Grande Revista Esportiva Facit. Depois, participou por muito tempo da
mesa-redonda da TV Educativa, no Rio.
Grande Resenha Facit
Mas
a participação na TV mais emblemática foi como âncora da Grande Resenha
Facit, primeira mesa-redonda da TV, apresentada nas TVs Rio e Globo
nos anos 60. a mesa era uma reunião de comentaristas de renome. Craques
como João Saldanha, Armando Nogueira, Nelson Rodrigues, José Maria
Scassa, Hans Henningsen (o “Marinheiro Sueco”), Vitorino Vieira, o
ex-artilheiro Ademir de Menezes discutiam, com paixão de torcedor, de
forma acalorada, o desempenho dos clubes cariocas, principalmente nos
jogos disputados no Maracanã.
A ideia da mesa-redonda foi do
então diretor da TV Rio, Walter Clark, depois de assistir a um debate
político entre os comentaristas Oliveira Bastos, Murilo Mello Filho e
Villas-Boas Corrêa.
A primeira
versão do programa foi em 1963, na TV Rio, com o nome de Grande Revista
Esportiva. Passou a se chamar Grande Resenha Facit após receber
patrocínio da empresa Facit, fabricadora de máquinas de escrever. A
mesa-redonda foi levada para a TV Globo em setembro de 1966.
Grandes paixões
A
grande paixão de Luiz Mendes, no entanto, foi o rádio. Em 1944, Luiz,
aos 19, chegava à Rádio Globo vindo da Rádio Farroupilha cheio de
sonhos. Um deles era conhecer a menina atriz Daysi Lucidi, que ouvia
numa peça de rádio-teatro. Luiz, que havia se encantado com aquele
trabalho, nunca poderia imaginar que mais tarde viveria com ela um conto
de fadas.
Apoiado pelo
brilhante Heron Domingues, um dos bambas do rádio brasileiro e depois
da TV, com quem dividiu quarto numa pensão, Luiz Mendes teve logo a
bênção de ninguém mais ninguém menos do que Roberto Marinho. Em 1946, já
ganhava concurso popular de melhor locutor esportivo. Anos depois,
como comentarista, seja pela Rádio Globo, onde trabalhou por grande
período de sua carreira, seja pela Rádio Tupi, onde teve boa passagem,
conquistou milhões com seu jeito simples e o profundo conhecimento
sobre futebol. Considerado uma enciclopédia ambulante, era
carinhosamente chamado pelos colegas de trabalho de "Mestre".
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