Entrevista Com Galvão Bueno, ´Não vão se livrar´

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Apesar de ser mais associado ao futebol e à Fórmula 1, Galvão Bueno já narrou várias lutas antes do UFC
MICHEL FILHO
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Mesmo sabendo que é um locutor que divide opiniões, Galvão Bueno não pretende se aposentar tão cedo, principalmente após narrar o UFC.
A carreira de Galvão Bueno ganha um novo desafio com o UFC e o narrador afasta a possibilidade de se aposentarGalvão Bueno, carioca e flamenguista, só lembra de uma vez em que perdeu a fala. Conta que passou dois minutos sem conseguir dizer uma palavra após ver o público brasileiro atender a seu pedido de piscar as luzes durante a transmissão da Copa do Mundo da Coreia e do Japão, na madrugada.
Por isso, talvez, a mais nova experiência profissional de Galvão o tenha deixado com aquele gostinho de quero mais. Em novembro, durou apenas 1m04s a luta entre Júnior Cigano dos Santos e Cain Velásquez pelo Ultimate Fighting Championship (UFC).
A modalidade passou a ser transmitida pela Globo e trouxe um frescor à carreira do locutor, que já não imaginava encarar um novo desafio à essa altura do campeonato. Polêmico, apaixonado, competitivo, adorado, detestado... Muito se fala sobre Galvão. E é disso que ele gosta.
Com que antecedência a Globo lhe propôs que narrasse o UFC?Oito dias antes da luta, Luiz Fernando Lima (diretor da Central Globo de Esportes) me ligou, perguntando o que eu achava da ideia. Eu disse: "Vamos agora!". Tenho uma história de narração de boxe. Eu fiz Muhammad Ali, Evander Holyfield, Mike Tyson, Acelino Freitas. Sempre gostei. A casa queria um início à altura do UFC e eu estava à disposição. E é muito bacana porque você chega numa fase em que imagina que já enfrentou todos os desafios. Eu não esperava que pudesse aparecer algo novo e com uma repercussão tão grande.
O fato de a narração ser tão comentada antes mesmo de acontecer aumentou a pressão?Exatamente! Desde as grandes corridas do (Ayrton) Senna que eu não via uma transmissão que eu fosse fazer com tanta expectativa e repercussão. Continua sendo desafiador.
Sua empolgação durante a transmissão era evidente... Sentiu-se como um iniciante?Eu me senti entrando na arena! E tive a sensação exata quando falei que eram os gladiadores do terceiro milênio (a expressão virou sucesso nas redes sociais). É isso mesmo! Recentemente, eu fiz uma viagem com Desirée, minha mulher, e o nosso filho, Luca, de 10 anos. Ele me pediu que o levasse ao Coliseu, em Roma, e agendamos uma visita que percorria desde o lugar em que os gladiadores treinavam até o caminho que faziam para chegar à arena. E, logo depois, estava eu aqui, me sentindo no centro do Coliseu novamente.
A expressão dos gladiadores surgiu na hora?Na hora! Eu nunca criei um bordão de caso pensado. O "Bem, amigos da Rede Globo" surgiu por eu narrar fora do Brasil e ter sempre a questão do fuso horário. Eu me embaralhava ao dizer "Bom dia" ou "Boa noite". Um dia, travei e falei "Bem, amigos". O mesmo com "Vai que é sua, Taffarel". Ele é o goleiro mais importante, com respeito a todos os outros, na História da Seleção Brasileira. Mas eu ficava enlouquecido porque ele não saía do gol. Então, "Vai que é sua" é "Vai na bola, infeliz!". Eu não podia falar isso, né?
Aponta algum herdeiro seu na narração?Não, seria muito injusto. Assisto à programação internacional e nossos narradores dão de dez neles. Na Itália, eu sou conhecido como aquele cara que grita "Goool", desde que os jogos começaram a passar lá há 20 anos. Tenho enorme orgulho da minha carreira.
E vai conseguir abandoná-la?As pessoas entenderam errado. A próxima Copa, no Brasil, será a minha décima e, certamente, a última que vou narrar. Mas não quer dizer que eu vá parar de trabalhar. Quero mergulhar no ciclo olímpico para 2016. Depois, se eu vivo estiver e com saúde, vou continuar na TV. Posso virar um âncora de eventos... Tem coisa mais fantástica ser a décima Copa, em exatos 40 anos de profissão e no Brasil? Pronto, chega. Fecho o microfone. Mas não vão se livrar de mim! Sabe-se lá por quantos anos eu vou fazer o UFC!
Clarissa Frajdenrajch
Agência O Globo

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