Cachoeira não responde a perguntas, e CPI decide encerrar sessão
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bicheiro Carlinhos Cachoeira ao lado do advogado Márcio Thomaz Bastos
durante sessão da CPI (Foto: Dida Sampaio / Agência Estado)
Após duas horas e meia de sessão na qual o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, se recusou a responder perguntas, os integrantes da CPI mista que apura a relação do bicheiro com políticos e autoridades aprovaram requerimento da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) que colocou fim à reunião.
"Estamos fazendo um papel ridículo, diante deste cidadão que está nos manipulando. Estamos perguntando para uma múmia, que não quer responder", disse a senadora.
O contraventor Carlinhos Cachoeira afirmou logo no começo do seu depoimento que foi "forçado" a vir a comissão. Ele se negou a responder a todas as perguntas feitas pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), e pelos demais parlamentares.
Cachoeira foi preso em fevereiro pela Polícia Federal, durante a Operação Monte Carlo, e levado para a penitenciária de Mossoró (RN). Em abril, foi transferido para o presídio da Papuda, em Brasília. Cachoeira é apontado como chefe de uma quadrilha que explorava o jogo ilegal em Goiás e tinha vínculo com autoridades públicos e parlamentares, segundo a investigação da PF. Ele foi levado para depor na CPI por um comboio da Polícia Federal e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
"Constitucionalmente, fui advertido pelos advogados para não dizer nada. E eu não falarei nada aqui. Somente depois da audiência que teremos com o juiz, depois, se acharem que posso contribuir, responderei a qualquer pergunta", afirmou Cachoeira na primeira fala na sessão.
O depoimento
O relator da CPI foi o primeiro a formular pergunta a Cachoeira. Ele quis que Cachoeira dissesse qual era o ramo de atividade dele. Sentado ao lado do advogado Márcio Thomaz Bastos, o bicheiro afirmou que só responderia após audiência na Justiça.
"Eu ajudaria muito, deputado, mas somente depois da minha audiência. Por enquanto, ficarei calado, como manda a Constituição", declarou Cachoeira.
O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) reclamou do silêncio do bicheiro. "O depoente não pode achar que aqui tem um monte de palhaço", afirmou.
Na última pergunta do relator, Cachoeira foi indagado sobre a relação com agentes públicos que têm foro especial, como parlamentares com os quais tem vínculo. "Estou respondendo a um inquérito na Justiça e antes disso não posso falar. Quem forçou minha vinda foram os senhores", declarou Cachoeira.
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) quis saber sobre relações de Cachoeira com secretários do governador Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal. "Desculpa, por orientação dos meus advogados vou permanecer calado", declarou o bicheiro. Sampaio depois indagou sobre uma suposta relação de Cachoeira com o ex-ministro José Dirceu (PT). "Eu vou permanecer calado", voltou a afirmar o bicheiro.
O deputado Fernando Francischini indagou Cachoeira sobre a "estrutura" usada para "cooptar autoridades e jornalistas" e perguntou se ele aceitaria um acordo de delação premiada eventualmente proposto pela Procuradoria-Geral da República. "Eu só falo...", disse Cachoeira ao ser interrompido pelo presidente da CPI, que passou a palavra a outro parlamentar.
O deputado Filipe Pereira (PSC-RJ) insistiu com a proposta de delação premiada, mas Cachoeira novamente se negou a responder.
O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) perguntou como estava o cotidiano do bicheiro no presídio da Papuda, em Brasília e também quis saber de onde saía o dinheiro para pagar os honorários do advogado Márcio Thomaz Bastos. "Eu só quero permancer calado", afirmou na resposta.
Às perguntas do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), entre as quais as que o indagavam sobre as relações com o governo do Distrito Federal e sobre a eventual convocação da ex-mulher dele, Cachoeira repetiu a frase "Calado, senhor".
"O que estamos fazendo aqui? Estamos permitindo aqui um exercício e um treino ao depoente e aos seus advogados. Estamos antecipando algo que se daria com mais efetividade depois que ele falar à Justiça", afirmou o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE).
Por causa do silêncio de Cachoeira, o líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), deixou a sala da CPI antes do término da reunião. “Nós sabemos que há uma cachoeira de crimes, de corrupção, de sujeira. Mas não houve cachoeira de respostas. O espetáculo é de acinte à instituição parlamentar. Não há juramento para o depoimento e não há respostas às indagações. Então, não há justificativa para a manutenção desse espetáculo grotesco que estamos assistindo agora”, afirmou.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) propôs a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico da empresa Delta, construtora que teria conexões com Cachoeira, segundo a investigação da Polícia Federal. Ele também sugeriu acareação entre Cachoeira e o ex-diretor do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit). "Sozinho é muito fácil ficar quieto. Mas eu tenho certeza de que quando a quadrilha briga, a sociedade se informa", declarou o parlamentar.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) considerou que a sessão da CPI não foi "inútil", embora Cachoeira não tenha respondido às perguntas. "Quando o acusado não fala para não produzir provas contra si, é uma declaração de culpa. Esta sessão não foi inútil", disse.
Domingos Sávio, deputado do PSDB-MG, insistiu na proposta de delação premiada, mas Cachoeira novamente se negou a responder.
"As pessoas podem dizer que sou ingênuo [...]. Mas acho que o sr. é um ser humano. Tem o dispositivo da delação premiada. O sr. pode ter sim sua pena não só abrandada, mas também extinta, pelo serviço que o sr. prestar à nação [...] O sr. estaria disposto a contribuir aceitando a delação premiada?", perguntou Sávio. "Com todo o respeito, uso meu direito de ficar calado", disse o bicheiro.
Fonte, G1
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