Cúpula dos povos descarta consenso

Na avaliação dos representantes do evento paralelo, os documentos oficiais já não inspiram confiança  Os representantes da Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), não acreditam na elaboração de um documento concreto por parte dos negociadores dos países que integram o evento oficial, que ocorre no Riocentro, na zona oeste da cidade.
Ontem, no Aterro do Flamengo, onde se realiza o encontro da Cúpula dos Povos, em entrevista coletiva concedida pelos representantes do Grupo de Articulação do Comitê Facilitador da Sociedade Civil (CFSC), o dirigente da Via Campesina, Luiz Zarref, disse que o grupo vem acompanhando com atenção o desenrolar das negociações no Riocentro, mas que não alimenta expectativas de que haja acordos concretos e consensuais em prol da definição de uma política de sustentabilidade.
"Até agora, as nossas expectativas são que não sairá nenhum documento a favor dos povos, do planeta e do meio ambiente. Ao contrário, o que está saindo é uma nova engenharia de um sistema capitalista que está em crise no seu centro principal - a Europa e a América do Norte - e que está tentando descobrir novas ferramentas para se apropriar dos territórios dos países do Sul, países que possuem povos e comunidades em espaços que não foram ainda totalmente dominados pelo capital".
Na avaliação dos representantes da Cúpula dos Povos, os documentos do processo oficial já não inspiram confiança, o que leva ao avanço cada vez maior da leitura de que não sairá nada de positivo da cúpula oficial.
"Se, na Rio92, nós tínhamos disputa por posições distintas, uma vez que tinham países que ainda se preocupavam com a solidariedade dos povos, com o bem da humanidade, nesta cúpula isso já não ocorre", disse Zarref, sem, no entanto, citar o nome de países nessa situação.
Presente ao evento, o cacique Raoni disse: "Estou aqui para dizer que estou vivo e lutando". Para Cindy Wiesner, do Grassroot Global Justice Alliance (GGJ), está cada vez mais claro que o que está ocorrendo no Rio é o confronto simultâneo entre as ideologias que, basicamente, vão ditar o futuro da humanidade e do planeta.
Economia se destaca no debateEmpresários e cientistas têm opiniões divergentes com relação à situação ambiental do planetaMaurice Strong, que foi o secretário-geral da Rio92, conferência ambiental das Nações Unidas realizada na capital fluminense há 20 anos, defendeu uma revolução na economia para garantir um futuro sustentável. Strong foi um dos homenageados, ontem, durante a Rio+20. "Temos que começar uma revolução. Porque somente com uma mudança revolucionária em nossa economia nós realmente poderemos ter um futuro sustentável".
Apesar do ambiente festivo, Strong declarou que não havia muito o que comemorar. "Os cientistas estão nos alertando de que estamos perto do limite de sobrevivência da civilização. Esta não é somente uma conferência sobre sustentabilidade ambiental. É sobre o futuro de nossa civilização", ressaltou.
O secretário-geral da Rio92 comparou as duas conferências e ressaltou que o encontro de 20 anos atrás foi bem-sucedido nos documentos finais, mas os países falharam nos anos seguintes em implementar os acordos.
Economia verde A avaliação dos empresários é mais otimista. Para os representantes ligados à Câmara Internacional de Comércio (ICC, em inglês), que representam o comércio e a indústria em discussões da Rio+20, o conceito de economia verde vai sobreviver à crise econômica enfrentada hoje, principalmente na Europa.
Em termos gerais, a economia verde defende que investimentos voltados para o crescimento econômico levem em consideração a redução de emissões de carbono e da poluição.
A ICC representa milhares de empresas em mais de 120 países e desenvolveu um documento chamado Mapa da Economia Verde, divulgado ontem, com dez sugestões para equacionar o dilema gerado pelo aumento da competição econômica e a limitação do uso dos recursos naturais, além do aumento da população mundial para 9 bilhões de habitantes, previsto para ocorrer em 2050.
Para a executiva da empresa Dow Chemical Martina Bianchini, o conceito de economia verde ainda é muito recente, mas representa o futuro nos negócios, enquanto a crise atual é passageira. "A economia verde vai sobreviver à crise. O futuro será tornar os negócios mais verdes", disse.
Fonte, DN

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