No último fim de semana o governador do Estado, Camilo Santana (PT), anunciou a prorrogação de lockdown em quatro cidades (Sobral, Camocim, Acaraú e Itarema)
da região Norte por mais sete dias. A medida mais rígida é justificada
pelo expressivo número de casos do novo coronavírus (Sars-CoV-2). Na
região, os índices preocupam.
A macrorregião de Sobral, composta por 55 municípios, já tem mais
casos da Covid-19 do que 13 estados do Brasil. Conforme balanço da
plataforma IntegraSus, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), a
macrorregião já concentra 14.629 registros, número
superior aos estados do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Santa
Catarina, Sergipe, Rondônia, Piauí, Acre, Paraná, Goiás, Tocantins,
Roraima, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Quando restringimos os dados para o número de óbitos em decorrência
da doença, a comparação para com os demais estados do Brasil é ainda
mais alarmante. Com 510 mortes até a tarde de ontem (15), a macrorregião já tem mais casos do que 14 estados brasileiros e Distrito Federal.
"Isso preocupa e, desde o início, já alertávamos", enfatiza a
presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems),
Sayonara Cidade. "Fizemos uma reunião com todos os secretários da região
para debater esse cenário", completa. O presidente da Associação dos
Municípios do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, pondera ser preciso avaliar
os números de forma a observar se a dinâmica atual continua a apresentar
a mesma tendência de crescimento ou se já dá mostras de redução.
"É importante que se possa analisar a partir das últimas semanas:
quantos confirmados? Quantos se internaram? Isso vai demonstrar se o
volume aumentou, estabilizou ou diminuiu", pontua. Para ele, essa
análise vai nortear as ações de enfrentamento ao coronavírus, como
medidas restritivas de isolamento, e auxiliar as decisões das
autoridades sanitárias no que tange a ampliação de leitos nos hospitais.
Mobilização
Preocupada com o elevado número de casos, a Aprece articulou um
diálogo entre três representantes dos quatro municípios que estão sob
medidas mais rígidas de isolamento social: Camocim,
Itarema e Acaraú. "Discutir tática, cooperação e aproximação", explica
Diniz. Outro ponto ressaltado durante o encontro foi a condição atual do
sistema de saúde na região Norte.
Com a estabilização dos casos em Fortaleza, as cidades sem leitos
para pacientes graves, ou com saturação nas vagas, poderão enviar
pacientes para a Capital. "No começo de junho, como já havia uma
diminuição, pedimos que houvesse a abertura de Fortaleza para a região
Norte", revela Nilson. Essa abertura garante, segundo ele, maior
capilaridade no atendimento.
Salto
Mas, o que explica essa curva ascendente na região? Para Regina
Carvalho, secretária da Saúde de Sobral, Município que concentra o
segundo maior número de pessoas infectadas no Estado, esse cenário é
fruto do volume de testagem, que hoje chega à média diária de 350. Até
agora já são nove mil exames realizados. "Os testes são muito
direcionados. Não são feitos aleatoriamente. Só quem tem sintomas faz, e
respeitamos o período de sete dias. A possibilidade de ser positivo é
bem alta. Hoje, mais de 50%", completa.
Outro fator levantado por Regina, é a proximidade dos municípios da
região com Fortaleza, primeiro epicentro da doença no Ceará. Na capital
cearense, que concentrou os primeiros casos da Covid-19, moram muitos
profissionais que trabalham em Sobral, ressalta Carvalho. "Professores
universitários e médicos, por exemplo, viajavam semanalmente".
A médica Luana Barbosa vai além. Ela diz que um "relaxamento inicial da população" pode
ter contribuído para o salto nos casos. A profissional considera que
"medidas de isolamento mais rígidas, que já estão sendo adotadas, são
positivas", mas alerta sobre a atuação conjunta da população. "Tem de
haver um contribuição de todos", alerta.
Ocupação
O cenário fica ainda mais delicado quando se analisa a taxa de
ocupação dos leitos nos hospitais que são referência no tratamento da
doença. Hoje, Sobral conta com 126 leitos de unidade de terapia
intensiva (UTI) apenas para Covid-19. A taxa de ocupação gira em torno
de 96%. No Hospital Regional Norte (HRN), que conta com 105, a taxa de
ocupação está em 93,33%.
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