O Congresso Nacional promulga hoje (2), às 10h, a Emenda
Constitucional 107, decorrente da PEC 18/2020, que adia as eleições
municipais de outubro para novembro. A sessão de promulgação será no
Plenário do Senado. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) foi
aprovada na Câmara dos Deputados na noite de ontem.
Dos partidos da base do presidente Jair Bolsonaro, apenas o PL e o
PSC orientaram contra. Na prática, o texto que recebeu sinal verde da
Câmara também muda o calendário eleitoral deste ano e a propaganda de
candidatos no rádio e na TV terá início somente em 9 de outubro.
Iniciada no Senado, a proposta determina que os dois turnos
eleitorais, inicialmente previstos para os dias 4 e 25 de outubro, serão
realizados nos dias 15 e 29 de novembro.
Por meio de uma emenda de redação, os deputados definiram que caberá
ao Congresso decidir sobre o adiamento das eleições por um período ainda
maior nas cidades com muitos casos da doença.
Não haverá prorrogação dos atuais mandatos. A data da posse dos eleitos permanece em 1º de janeiro de 2021.
Para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, prevaleceu o
entendimento no Congresso, "dialogando com o TSE, a comunidade
científica, prefeitos e vereadores".
Relator da matéria no Senado, o senador Weverton (PDT-MA) reforçou
que o motivo do adiamento é salvar vidas, evitando mais contágios. O
relator da PEC na Câmara, deputado Jhonatan de Jesus (RR), líder do
Republicanos, não fez alterações ao texto do Senado. "A alteração do
calendário eleitoral é medida necessária no atual contexto da emergência
de saúde pública", defendeu o líder do Republicanos.
De acordo com a proposta aprovada pelo Congresso, as emissoras ficam
proibidas de transmitir programa apresentado ou comentado por
pré-candidato a partir de 11 de agosto - antes, o prazo começava a
contar em 30 de junho.
Legenda:
Placar do segundo turno da votação que adiou as eleições municipais
Foto:
Agência Câmara
Desincompatibilização
O texto mexe no prazo para desincompatibilização ainda em vigor. Pelo
calendário do TSE, o prazo máximo para afastamento de alguns cargos é
de três meses antes da eleição -ou seja, 4 de julho.
Com o adiamento das disputas, que antes estavam marcadas para 4 e 25
de outubro, a expectativa é de que a incidência e o risco de
contaminação pela Covid-19 sejam menores.
Para que a proposta fosse aprovada era necessário o apoio de 308 dos
513 deputados. No primeiro turno, o texto teve 402 votos a favor, 90
contra e quatro abstenções. No segundo turno, proposta recebeu 407 votos
favoráveis e 70 contrários. O PROS, o Patriota e o Governo Bolsonaro
liberaram os votos.
Bastidores
Até a semana passada o grupo de partidos conhecido como Centrão era
contra empurrar as eleições para novembro por sofrer pressão dos
prefeitos, muitos deles candidatos a um segundo mandato. O cálculo
político sempre foi o de que jogar as disputas para mais tarde
beneficiaria a oposição, que teria mais tempo para fazer campanha.
Caciques dessas siglas do Centrão têm o controle de boa parte das
prefeituras e, com os atuais prefeitos, avaliavam que uma campanha mais
curta elevaria a chance de reeleição.
A maioria dos deputados, no entanto, acabou mudando de posição após
negociações sobre o retorno da propaganda partidária na TV e a garantia
de mais R$ 5 bilhões para municípios no combate à pandemia. Segundo o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os partidos do Centrão - PSD, PP, PL,
DEM, PTB e Solidariedade - assumiram o comando de 1.918 prefeituras nas
eleições passadas, o que equivale a um terço do total do País.
O Senado já havia aprovado o adiamento das disputas municipais, no
último dia 23, mas havia forte resistência na Câmara dos Deputados. A
reviravolta ocorreu após negociações, no fim de semana, comandadas pelo
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com a participação do
presidente do Senado.
Datas
Uma das mudanças feitas no texto que passou pelo crivo do Senado
retirou a possibilidade de o TSE decidir sozinho um adiamento ainda
maior das eleições, no caso de as condições sanitárias não permitirem a
realização do pleito, em algum município, no dia 15 de novembro. A
data-limite fixada foi 27 de dezembro. Outras datas do calendário
eleitoral também foram alteradas.
O início oficial da campanha, por exemplo, foi adiado de 16 de agosto
para 27 de setembro. Os candidatos terão mais tempo para inaugurar
obras, participar de eventos públicos e aparecer em programas de TV e
rádio.
Além disso, pelas regras antigas desde ontem, emissoras não poderiam
mais exibir programas de apresentadores de rádio e TV candidatos. Com o
adiamento, a regra passará a valer em 11 de agosto.
A proposta permite, ainda, a posse de prefeitos e vereadores antes do julgamento das contas de campanha pela Justiça Eleitoral.
Discursos
A deputada governista Bia Kicis (PSL-DF) discursou contra a proposta.
"Vários são os motivos para se rejeitar essa PEC. Traz gastos extras
que não são recomendáveis em um momento como esse. Servidores públicos
que já se desincompatibilizaram terão prejuízo muito grande com esse
adiamento", disse ela, que é aliada de Jair Bolsonaro. "Trará mais
custos do que benefícios".
O líder do Governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), orientou,
porém, favoravelmente à admissibilidade, mas liberou a análise do
mérito. "Essa é uma questão que não diz respeito diretamente ao
Governo", observou.
O MDB havia liberado a bancada, mas o líder do partido, deputado
Baleia Rossi (SP), acabou apoiando o adiamento, alegando que a maioria
do partido tem essa posição.
Segundo o deputado Alessandro Molon, líder do PSB na Câmara, é
preciso garantir que os brasileiros possam votar sem medo de serem
contaminados pela doença. "Não adiar significa excluir milhões de
brasileiros que teriam medo de ir votar por fazerem parte de algum grupo
de risco ou pela própria preocupação de contrair a doença", disse.
Nenhum comentário
Comente Esta Noticia