Técnico Ary Vidal morre aos 77 anos
O técnico Ary Vidal morreu nesta segunda-feira (28) por volta das 13h, aos 77 anos, em sua residência no bairro de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, informou a CBB (Confederação Brasileira de Basquete). O enterro será realizado na terça-feira (29) no Cemitério do Caju, às 11h.
Antes de ser técnino, Ary jogou basquete de 1948 a 1961 Foto: Divulgação CBB
Em outubro do ano passado, o treinador chegou a ser internado no Rio em estado grave com problemas cardíacos e renais. Vidal nasceu no Rio de Janeiro em 28 de dezembro de 1935, dia de Santo Inocêncio, muito venerado no Peru, coincidentemente, onde ele também teve êxito com as seleções peruanas masculina e feminina, na década de 70. O reconhecimento do seu trabalho naquele país era motivo para dizer que se sentia brasileiro e peruano.
Jogou basquete de 1948 a 1961, quando iniciou a carreira de técnico, na qual teve como guru Togo Renan Soares, o Kanela. Era formado em educação física. Ministrou cursos, palestras e clínicas no Brasil e no exterior.
Basquete brasileiro
Vidal foi um dos mais destacados técnicos da história do basquete brasileiro. Dirigiu a seleção nacional masculina na campanha da medalha de bronze no Mundial de Manila, em 1978, e na conquista do título dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em 1987. Nesta última, o time do Brasil superou o dos EUA na decisão, uma das vitórias mais festejadas do esporte brasileiro, pois os adversários contavam com jogadores que logo ingressariam na NBA, a liga profissional norte-americana. Além disso, o rival desfrutava da fama de imbatível em casa e o Pan, na época, era uma competição com maior relevância do que na atualidade.
Antes de assumir a profissão de técnico de basquete, ele trabalhou como estatístico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Certamente, esse conhecimento o ajudou no esporte.
A bola certeira de quadra valia dois pontos. Aí ocorreu a introdução da cesta de três pontos, com arremessos de uma marca mais distante. Uma decisão atrevida de Vidal, e adequada à nova etapa, impulsionou a mentalidade já ofensiva da seleção, com enfoque na velocidade e arremesso. É bom lembrar que o Brasil tinha Oscar e Marcel, exímios arremessadores. Até nos contra-ataques previa chutes de três pontos, que, se falhassem, contavam com jogadores altos postados para o rebote ofensivo e a cesta de dois pontos.
Aos poucos, os rivais absorveram a nova realidade e perderam o receio do uso dos lances de três pontos. Coincidentemente, a seleção começou a colher fracassos -Vidal já estava fora do time- e a mentalidade ofensiva passou a sofrer pesadas criticas.
Seleção
Com a seleção, ele enfrentou uma forte crise no Pan-79, em Porto Rico, quando o time terminou com o bronze. Ao prestigiar novatos como titulares -Marcel e Oscar, entre outros-, os veteranos discordaram e se rebelaram. Houve troca de acusações via mídia, um vexame.
O site da Confederação Brasileira de Basquete registra ter Vidal dirigido a seleção nacional masculina em 16 competições, com destaques para as Olimpíadas (5º em Seul-88 e 6º em Atlanta-96); Torneios Pré-Olímpicos das Américas (campeão no Uruguai-88 e 3º nos EUA-92 e Argentina-95) e Mundiais (3º nas Filipinas-78 e 4º na Espanha-86). Em Pans, além do ouro em Indianápolis-87, foi bronze em San Juan-79 e Mar del Plata-95. Ele dirigiu também a seleção feminina em 11 jogos (8 vitórias e 3 derrotas), tendo chegado ao 8º lugar no Mundial-67 na antiga Tchecoslováquia e ao título de campeão no Sul-Americano de 1965 no Brasil.
Em clubes, seu resultado mais expressivo foi a conquista do título nacional com o Corinthians, de Santa Cruz-RS. Dirigiu ainda Tijuca, Flamengo, Fluminense, Vasco, Remo, Minas, Al Ahli/Arábia Saudita, Angra dos Reis-Verolme, Sírio, Juver/Espanha, Uberlândia e Sport.
"Basquete para Vencedores"
Embora não fosse religioso praticante, Vidal se considerava um homem de fé e tinha algumas crenças, entre elas em São Judas Tadeu. Está tudo no seu livro "Basquete para Vencedores", escrito para explicar a campanha vitoriosa no Pan de Indianápolis. Sempre que podia ia sozinho à igreja do Cosme Velho, no bairro das Laranjeiras, no Rio. Lá, em suas orações, costumava pedir a proteção de São Judas para sua família, sua equipe e para ele próprio, sentindo-se mais confortado e muito mais confiante em tudo o que fazia, especialmente em seu trabalho.
Outro ponto de fé era o que chamava de "Desígnios Superiores". Acreditava que trabalhando no limite máximo de suas forças, e levando sua equipe a seguir esse mesmo ritmo, que esforçava-se para que fosse mais intenso do que o de seus adversários, poderia o time contar com a ajuda dos "Desígnios Superiores".
Escreveu sobre os pontos que julgava essenciais para um treinamento: duração (tem de ser necessariamente de oito a dez vezes maior do que o tempo de esforço exigido do atleta num jogo), intensidade (o ritmo do treino deve ser mais intenso do que o exigido no jogo), continuidade (a rotina não pode sofrer interrupção, ou seja, o atleta deve ter o mínimo de folga), repetição (jogador não gosta de repetir porque tem a pretensão de julgar que já sabe) e motivação.
Neste último item, uma mostra do trabalho de Vidal, com Oscar Schmidt, um cestinha fenomenal, que chegou a ser apelidado de Mão Santa, tal a sua precisão nos tiros, mas que apresentava deficiência na defesa. Oscar concordada com a crítica do técnico, se esforçava, mas não conseguia corrigir a falha nos preparativos para o Mundial-78.
Vidal buscou a solução fora da quadra. Observou que o jogador era apaixonado por chocolate. Comprou o estoque do produto na bombonière da concentração da seleção. E propôs uma brincadeira: cada boa ação defensiva valia um chocolate. Oscar topou o desafio e passou a defender com mais empenho para garantir seu chocolate, sem prejudicar sua vocação de cestinha. E como visto, o Brasil subiu no pódio.
Fonte, DN
Antes de ser técnino, Ary jogou basquete de 1948 a 1961 Foto: Divulgação CBB
Em outubro do ano passado, o treinador chegou a ser internado no Rio em estado grave com problemas cardíacos e renais. Vidal nasceu no Rio de Janeiro em 28 de dezembro de 1935, dia de Santo Inocêncio, muito venerado no Peru, coincidentemente, onde ele também teve êxito com as seleções peruanas masculina e feminina, na década de 70. O reconhecimento do seu trabalho naquele país era motivo para dizer que se sentia brasileiro e peruano.
Jogou basquete de 1948 a 1961, quando iniciou a carreira de técnico, na qual teve como guru Togo Renan Soares, o Kanela. Era formado em educação física. Ministrou cursos, palestras e clínicas no Brasil e no exterior.
Basquete brasileiro
Vidal foi um dos mais destacados técnicos da história do basquete brasileiro. Dirigiu a seleção nacional masculina na campanha da medalha de bronze no Mundial de Manila, em 1978, e na conquista do título dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, em 1987. Nesta última, o time do Brasil superou o dos EUA na decisão, uma das vitórias mais festejadas do esporte brasileiro, pois os adversários contavam com jogadores que logo ingressariam na NBA, a liga profissional norte-americana. Além disso, o rival desfrutava da fama de imbatível em casa e o Pan, na época, era uma competição com maior relevância do que na atualidade.
Antes de assumir a profissão de técnico de basquete, ele trabalhou como estatístico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Certamente, esse conhecimento o ajudou no esporte.
A bola certeira de quadra valia dois pontos. Aí ocorreu a introdução da cesta de três pontos, com arremessos de uma marca mais distante. Uma decisão atrevida de Vidal, e adequada à nova etapa, impulsionou a mentalidade já ofensiva da seleção, com enfoque na velocidade e arremesso. É bom lembrar que o Brasil tinha Oscar e Marcel, exímios arremessadores. Até nos contra-ataques previa chutes de três pontos, que, se falhassem, contavam com jogadores altos postados para o rebote ofensivo e a cesta de dois pontos.
Aos poucos, os rivais absorveram a nova realidade e perderam o receio do uso dos lances de três pontos. Coincidentemente, a seleção começou a colher fracassos -Vidal já estava fora do time- e a mentalidade ofensiva passou a sofrer pesadas criticas.
Seleção
Com a seleção, ele enfrentou uma forte crise no Pan-79, em Porto Rico, quando o time terminou com o bronze. Ao prestigiar novatos como titulares -Marcel e Oscar, entre outros-, os veteranos discordaram e se rebelaram. Houve troca de acusações via mídia, um vexame.
O site da Confederação Brasileira de Basquete registra ter Vidal dirigido a seleção nacional masculina em 16 competições, com destaques para as Olimpíadas (5º em Seul-88 e 6º em Atlanta-96); Torneios Pré-Olímpicos das Américas (campeão no Uruguai-88 e 3º nos EUA-92 e Argentina-95) e Mundiais (3º nas Filipinas-78 e 4º na Espanha-86). Em Pans, além do ouro em Indianápolis-87, foi bronze em San Juan-79 e Mar del Plata-95. Ele dirigiu também a seleção feminina em 11 jogos (8 vitórias e 3 derrotas), tendo chegado ao 8º lugar no Mundial-67 na antiga Tchecoslováquia e ao título de campeão no Sul-Americano de 1965 no Brasil.
Em clubes, seu resultado mais expressivo foi a conquista do título nacional com o Corinthians, de Santa Cruz-RS. Dirigiu ainda Tijuca, Flamengo, Fluminense, Vasco, Remo, Minas, Al Ahli/Arábia Saudita, Angra dos Reis-Verolme, Sírio, Juver/Espanha, Uberlândia e Sport.
"Basquete para Vencedores"
Embora não fosse religioso praticante, Vidal se considerava um homem de fé e tinha algumas crenças, entre elas em São Judas Tadeu. Está tudo no seu livro "Basquete para Vencedores", escrito para explicar a campanha vitoriosa no Pan de Indianápolis. Sempre que podia ia sozinho à igreja do Cosme Velho, no bairro das Laranjeiras, no Rio. Lá, em suas orações, costumava pedir a proteção de São Judas para sua família, sua equipe e para ele próprio, sentindo-se mais confortado e muito mais confiante em tudo o que fazia, especialmente em seu trabalho.
Outro ponto de fé era o que chamava de "Desígnios Superiores". Acreditava que trabalhando no limite máximo de suas forças, e levando sua equipe a seguir esse mesmo ritmo, que esforçava-se para que fosse mais intenso do que o de seus adversários, poderia o time contar com a ajuda dos "Desígnios Superiores".
Escreveu sobre os pontos que julgava essenciais para um treinamento: duração (tem de ser necessariamente de oito a dez vezes maior do que o tempo de esforço exigido do atleta num jogo), intensidade (o ritmo do treino deve ser mais intenso do que o exigido no jogo), continuidade (a rotina não pode sofrer interrupção, ou seja, o atleta deve ter o mínimo de folga), repetição (jogador não gosta de repetir porque tem a pretensão de julgar que já sabe) e motivação.
Neste último item, uma mostra do trabalho de Vidal, com Oscar Schmidt, um cestinha fenomenal, que chegou a ser apelidado de Mão Santa, tal a sua precisão nos tiros, mas que apresentava deficiência na defesa. Oscar concordada com a crítica do técnico, se esforçava, mas não conseguia corrigir a falha nos preparativos para o Mundial-78.
Vidal buscou a solução fora da quadra. Observou que o jogador era apaixonado por chocolate. Comprou o estoque do produto na bombonière da concentração da seleção. E propôs uma brincadeira: cada boa ação defensiva valia um chocolate. Oscar topou o desafio e passou a defender com mais empenho para garantir seu chocolate, sem prejudicar sua vocação de cestinha. E como visto, o Brasil subiu no pódio.
Fonte, DN
Nenhum comentário
Comente Esta Noticia