BRASÍLIA — O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu que
irá fazer uma segunda denúncia contra o presidente Michel Temer antes do
fim de seu mandato em 17 de setembro. Janot e equipe já estão até
elaborando o texto básico da acusação. O trabalho deve ser concluído no
início de setembro. O caso está sendo mantido sob sigilo e até o momento
não está claro ainda qual crime será imputado ao presidente, que nega
ter cometido qualquer ato ilícito.
A denúncia será feita a partir do inquérito aberto pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) para investigar Temer por corrupção, obstrução de
justiça e organização criminosa. Na primeira denúncia, bloqueada pela
Câmara no início deste mês, Janot acusou Temer de corrupção passiva.
Agora resta saber se a nova acusação estará centrada em um ou nos dois
crimes restantes. É certo, no entanto, que o procurador-geral usará
elementos da delação do operador Lúcio Bolonha Funaro para reforçar a
denúncia.
Desde que barraram a primeira denúncia, com mais de 120 votos de
margem, aliados do presidente passaram a disseminar que o
procurador-geral havia perdido o fôlego e não teria mais força para
fazer uma segunda acusação. A avaliação era que a pressão política
levaria o procurador-geral a postergar as investigações por tempo
indefinido, o que inviabilizaria uma nova iniciativa de ordem criminal.
O acordo de delação de Funaro foi firmado na terça-feira, depois de
pelo menos três meses de negociação. Nas tratativas iniciais, ele
prometeu falar sobre um expressivo número de políticos, entre eles Temer
e bancada parlamentar ligada ao ex-deputado Eduardo Cunha. O inquérito
aberto contra o presidente tem como ponto de partida a delação do
empresário Joesley Batista e outros executivos da JBS.
Um dos trunfos da investigação é a gravação de uma conversa entre
Temer e Batista no porão do Palácio do Jaburu, na noite de 7 de março
deste ano. Trechos da gravação foram divulgados pelo GLOBO em 17 de
maio. No encontro, o empresário fala sobre vários crimes que teria
cometido, como suborno a um procurador da República, e sinaliza a compra
do silêncio de Funaro e Eduardo Cunha. Manifesta também interesse em
cargos e decisões estratégicas do governo.
Diz ainda que precisaria de uma novo interlocutor junto ao governo.
Temer indica, então, o ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures para
conversar com Batista. O empresário pergunta se poderia tratar de “tudo”
com Loures. “Tudo”, responde Temer. Depois do acerto, Loures entra em
cena e, posteriormente, foi filmado correndo em São Paulo com uma mala
com R$ 500 mil recebida de Ricardo Saud, diretor da JBS.
Em relatório, a Polícia Federal afirma que o dinheiro seria parte de
uma propina que, ao longo de 20 anos, bateria a casa dos R$ 400 milhões.
Na conversa com o presidente no Jaburu, Batista disse que fazia
pagamentos a Funaro. A ideia seria impedir que o operador fizesse
delação. A partir da informação, a PF saiu a campo e também registrou o
momento em que Saud entra num táxi para repassar uma mala com R$ 500 mil
para Roberta Funaro, irmã do operador. Por conta da suspeita, Roberta
acabou sendo presa, na primeira fase da investigação.
À PF, no início de julho, o doleiro alegou que o dinheiro recebido
pela irmã seria parte do pagamento de uma dívida. Batista reafirmou a
acusação de que o dinheiro seria uma forma de manter o operador em
silêncio.
Fonte, O Globo
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